R. Deixem-me agora explanar em linhas gerais sobre nosso tema, porém, com uma breve explicação do que não será tratado, a saber, a história em si de todo o complexo de Campos de Concentração do Nacional-Socialismo. Das diferentes categorias dos prisioneiros transportados, a função oficial e original dos Campos era clara: eles serviam inicialmente para desativar e reeducar os adversários políticos.
P. Reeducação através de extermínio?
R. Eu discorro sobre a fase
inicial dos Campos, ou seja, desde a proibição do partido comunista no
início de 1933. Ninguém afirma hoje que naquela época houve um
extermínio sistemático dos detentos. Se naquela época o aprendizado
político levado a cabo pelos nacional-socialistas teve algum êxito, isso
pode ser duvidado. Foram mais os sucessos econômicos e na política
externa que possibilitaram educar com sucesso a população, do que
quaisquer medidas forçadas nos Campos, as quais produziram
frequentemente o efeito contrário. Posteriormente, os Campos serviram
para aprisionar criminosos irrecuperáveis e casos associais, onde os
homossexuais e ciganos foram incorporados em outras categorias
diferentes destas. Após a chamada Noite de Cristal, a 9 de
novembro de 1938, judeus foram levados pela primeira vez em Campos de
Concentração por serem eles judeus; certamente quase todos os presos
desta ocasião foram libertados um pouco depois. Somente com o início da campanha da Rússia é que a realização da chamada “Solução Final” levou à deportação em massa dos judeus para os Campos.
P. Então você confirma o inegável! Houve uma Solução Final!
R. Certamente, e esse é o tema em
questão. Os próprios nacional-socialistas expressaram textualmente sobre
a “Solução Final da Questão Judaica”. Eles eram sabidamente a favor,
desde o início, do afastamento dos judeus da Alemanha.
P. Pelos céus, por que para Madagascar? Isso soa um pouco fantástico.
R. Madagascar era colônia francesa
e portanto, após a queda da França, negociável. A Palestina, ao
contrário, era britânica e além disso, os nacional-socialistas não
estavam nem um pouco interessados em rejeitar os potenciais aliados
árabes através da criação de Israel. Fato é que estes planos foram
avaliados e no início de 1942 totalmente descartados, e foi resultado
daquilo discutido durante a famigerada Conferência de Wannsee. A “Solução Final” introduzida com a ordem de Göring, a 31/07/1941, quando se esperava uma rápida queda da União Soviética em decorrência do gigantesco sucesso inicial da campanha militar do leste.
“Complementando as ordens delegadas a você através da diretriz de 14.1.39, levar a cabo a Questão Judaica na forma de emigração ou evacuação
na mais rápida e possível solução dentro das condições atuais, eu lhe
incumbo de providenciar todos os preparativos necessários de caráter
organizatório, técnico e material, para uma solução completa da Questão
Judaica na área de influência alemã na Europa. À medida em que sejam
atingidas as responsabilidades de outras instâncias centrais, estas
devem participar.
Eu lhe incumbo, além disso, de me participar em breve sobre o plano geral das condições prévias organizatórias, técnicas e materiais para execução da almejada Solução Final da Questão Judaica.”
Eu lhe incumbo, além disso, de me participar em breve sobre o plano geral das condições prévias organizatórias, técnicas e materiais para execução da almejada Solução Final da Questão Judaica.”
P. Mas nada de assassinato.
R. Muito pelo contrário. A
política de 14/01/1939 até o verão de 1941 foi direcionada claramente
para a emigração e deportação, e a antiga tarefa de Heyndrich não foi
substituída por esta, mas sim simplesmente completada, ou seja,
aumentada, e com sentido territorial: em janeiro de 1939, Heyndrich
podia agir somente no Reich alemão, porém, no verão de 1941 em quase
toda a Europa. E justamente isso atesta este ofício: desenvolva um amplo
plano para possibilitar a emigração e evacuação de toda a judiaria da
área de influência alemã na Europa.
P. Göring já tinha nesta ocasião Madagascar como alvo da deportação ou já considerava a Rússia?
R. Pelo documento não temos como
saber isso. Do diário de Goebbels pode-se saber que Hitler já
mencionara, em agosto de 1941, a deportação de judeus para o leste,
“Na execução deste procedimento dos bolchevistas contra os alemães do Volga, os judeus na Europa Central serão transportados da mesma forma para o leste dos territórios sob administração alemã. [...] Tornar-se-ia realidade o crime contra os alemães do Volga, então a judiaria terá que compensar este crime muitas vezes.”
P. Por conseguinte, o governo do Reich considerava a solução final como um tipo de represália?
R. Pelo menos segundo a propaganda
no rádio. Fato é que o governo do Terceiro Reich já tinha planejado a
realocação forçada dos judeus, tendo não necessariamente como alvo a
Europa Oriental, da mesma forma como Stalin também já tinha planejado
anteriormente a alocação forçada dos alemães do Volga, e tinha até
começado. Todavia, em 1941, o aparato de terror de Stalin não podia ser
mais rotulado como judaico, pois Stalin tinha acabado, até 1938, com a
clara dominância judaica no governo soviético através de sua violenta
limpeza. Definitivamente o Plano Madagascar foi abandonado somente em fevereiro de 1942, ou seja, após a Conferência de Wannsee.
P. Mas isso parece ser muito diferente, como se uma
ordem de Hitler para aplicação da solução final tivesse sido tomada
naqueles dias de outubro de 1941.
R. Isso pode ser. A série de
documentos que se relaciona com uma solução final territorial continua
firmemente. A 6 de novembro de 1941, Heyndrich menciona sua instrução de
janeiro de 1939, preparar a “Solução Final”,
“No lugar da emigração, apareceu como outra possibilidade de
solução, após correspondente permissão anterior do Führer, a evacuação
dos judeus para o leste. Estas ações são, todavia, mencionáveis somente
como possibilidades evasivas, porém, aqui já são acumuladas experiências
práticas, muito importantes em relação à vindoura solução final da
Questão Judaica.”
P. Então o que passou na guerra não foi a solução final, mas sim somente algo provisório.
R. Assim segundo este protocolo, e isso combina com o encontrado em muitos outros documentos alemães. Aqui alguns exemplos:- A 15/08/1940, Hitler falou que os judeus da Europa deveriam ser evacuados depois da guerra.
- A 17/10/1941, Martin Luther, chefe do departamento Alemanha no Ministério do Exterior, um nota onde a referência é quanto “as medidas a serem tomadas após o final da guerra para a solução completa da Questão Judaica”.
- A 25/01/1942, ou seja, cinco dias após a Conferência de Wannsee, o SS-Reichsführer Heinrich Himmler escreveu para o inspetor de CC Richard Glücks:
“Providencie para receber nas próximas semanas 100.000 detentos
judeus e até 50.000 detentas judias. Grandes tarefas econômicas deverão
aparecer nas próximas semanas nos Campos de Concentração.”
– Na primavera de 1942, o chefe da chancelaria do Reich, Hans Heinrich Lammers, registrou que Hitler “quis postergar a Solução Final da Questão Judaica para depois da guerra”. - A 30/04/1942, Oswald Pohl, chefe da administração central de economia da SS, reportou:
“A guerra provocou uma visível alteração da estrutura dos Campos
de Concentração e modificou radicalmente sua função em relação à atuação
dos prisioneiros. A multiplicação dos prisioneiros, seja somente por
razões de segurança de ordem disciplinar ou educativa, não ocupa mais o
papel principal. O peso agora recai sobre os aspectos econômicos. A
mobilização das forças de trabalho dos prisioneiros primeiramente para
as tarefas de guerra (aumento dos armamentos) e depois para as missões
de paz, vêm sempre com mais prioridade. Do reconhecimento disto resulta
medidas necessárias que exigem a transformação dos Campos de
Concentração de sua função política original para uma correspondente
organização de caráter econômico.”
- A 26/06/1942, em seu
Quartel-General, Hitler anunciou que após a guerra ele “assumiria
rigorosamente a posição na qual daria cabo de cidade em cidade, caso os
judeus não saíssem e emigrassem para Madagascar ou outro qualquer estado
judaico.” - A 21 de agosto de 1942, Luther elaborou um resumo da política nacional-socialista em relação aos judeus.
- Em setembro de 1942: No conhecido “mapa verde” para “condução da economia nos territórios ocupados ao leste” consta que “a Questão Judaica será amplamente resolvida após a guerra para toda a Europa”, por isso tratavam-se sempre de medidas provisórias, onde “medidas chicanosas” (schikanöse Maßnahmen) contra os judeus seriam “deixadas de lado, pois eram desonrosas para um alemão”.
- A 05/09/1942, Horst Ahnert escreveu da polícia de segurança de Paris, que com respeito à “solução final da Questão Judaica, o transporte dos judeus [...] com a finalidade de mão-de-obra” deveria começar.
- A 16/09/1942, um dia após seu encontro com o ministro de armamento Albert Speer, Oswald Pohl relatou ao Reichsführer SS Heinrich Himmler em uma nota, que a totalidade dos prisioneiros do Reich deveriam ser requisitados para a produção de armamentos:
“Os judeus determinados para a emigração para o leste interromperão sua viagem e deverão trabalhar na produção de armamentos.”
- A 14/12/1942, o conselheiro ministerial Maedel resume a política NS dos judeus como “a libertação gradual do território do Reich dos judeus, através de sua emigração para o leste.” - A 28/12/1942, Richard Glücks, inspetor de CC, ordenou aos comandantes de 19 campos:
“Os primeiros médicos dos campos têm de utilizar todos os meios
que lhe sejam disponíveis para reduzir substancialmente a mortalidade de
cada campo. [...] Os médicos dos campos têm que supervisionar mais do
que até o momento a alimentação dos prisioneiros e em acordo com a
administração fornecer ao comandante do campo sugestões de melhoramento.
Estas não devem somente constar no papel, mas devem sim ser controladas
pelos médicos dos campos regularmente. [...] O Reichsführer SS ordenou
que a mortalidade deva ser reduzida impreterivelmente.”
- A 26/10/1943, Oswald Pohl escreveu a todos os comandantes de CC:
“No contexto da produção de armamentos, os CC representam um fator de significado decisivo para a guerra. [...]
Em anos anteriores, no contexto daquelas missões de reeducação, poderia ser indiferente se os detentos produzissem um trabalho útil ou não. Mas agora a força de trabalho dos detentos é significativa, e todas as medidas dos comandantes, líderes dos serviços de abastecimento e médicos devem se concentrar na manutenção da saúde e capacidade produtiva dos prisioneiros. Não por sentimentalismo, mas sim porque nós necessitamos de suas pernas e braços, pois elas devem contribuir que o povo alemão conquiste uma grande vitória, por isso nós devemos nos preocupar com o bem estar dos prisioneiros. Eu coloco como objetivo: no máximo 10% dos prisioneiros podem ficar incapacitados devido a doenças. Este objetivo deve ser atingido em um trabalho conjunto de todos os responsáveis. Necessário para isso é:
Para o controle das medidas contidas nesta instrução, em me engajarei pessoalmente.”
Em anos anteriores, no contexto daquelas missões de reeducação, poderia ser indiferente se os detentos produzissem um trabalho útil ou não. Mas agora a força de trabalho dos detentos é significativa, e todas as medidas dos comandantes, líderes dos serviços de abastecimento e médicos devem se concentrar na manutenção da saúde e capacidade produtiva dos prisioneiros. Não por sentimentalismo, mas sim porque nós necessitamos de suas pernas e braços, pois elas devem contribuir que o povo alemão conquiste uma grande vitória, por isso nós devemos nos preocupar com o bem estar dos prisioneiros. Eu coloco como objetivo: no máximo 10% dos prisioneiros podem ficar incapacitados devido a doenças. Este objetivo deve ser atingido em um trabalho conjunto de todos os responsáveis. Necessário para isso é:
1. Uma alimentação correta e condizente com as necessidades
2. Uma vestimenta correta e condizente com as necessidades
3. A utilização de todos os meios de saúde naturais
4. O impedimento de todos esforços desnecessários, que não sejam realmente exigidos para a produção
5. Prêmio por desempenho. [...]
2. Uma vestimenta correta e condizente com as necessidades
3. A utilização de todos os meios de saúde naturais
4. O impedimento de todos esforços desnecessários, que não sejam realmente exigidos para a produção
5. Prêmio por desempenho. [...]
Para o controle das medidas contidas nesta instrução, em me engajarei pessoalmente.”
P. Colocando em segundo plano a exatidão de suas
colocações, como você explica então as diferentes observações dos
grandes nacional-socialistas, que falavam antes ou durante a guerra
sobre o extermínio dos judeus?
R. Excetuando as observações de Hitler em seu círculo de confiança, que não mencionavam extermínio, eu citei aqui somente documentos de ordem burocrática. Estes e todos os outros documentos burocráticos nunca falam de um extermínio físico. É outra coisa quando nos voltamos para diários, discursos ou memórias do pós-guerra. Trata-se aqui em princípio de depoimentos escritos de testemunhas e de testemunhos das partes, as quais eu irei tratar em detalhes no próximo capítulo, quando tratarmos dos depoimentos dos acusados.
P. Como proceder então, se os documentos burocráticos mentem, se evacuação ou deportação sejam somente palavras camufladas para assassinato? [395]
R. Então temos um problema de
lógica: se não existe um consenso sobre o que significavam os termos
“emigração”, “evacuação”, “realocação” e “deportação”, utilizados pela
burocracia NS como você alega, como é que seria esclarecido àqueles que
recebiam as ordens a partir do meio/final de 1941, que estes mesmos
termos fossem agora camuflagem para algo totalmente diferente, ou seja,
genocídio? Vamos manter à vista que os membros da administração do
Terceiro Reich teriam executado as ordens cegamente e sem passar por um
crivo crítico. Se isso está correto, não posso afirmar. Fato é que a
recusa em cumprir uma ordem era punida severamente, principalmente se
foi ordenado realocar pessoas ou aplicá-las em trabalhos forçados, em
questões vitais na condução da guerra, e se essas pessoas ao invés disso
eram assassinadas. Imagine somente o seguinte, o que aconteceria se a
ordem “realocação dos tiroleses do sul” fosse seguido de um genocídio
dos tiroleses do sul. Como seria feito para que aquele que recebesse as
ordens, a partir de um determinado momento, pudesse interpretar
radicalmente determinadas ordens, diferentemente daquilo que elas
descreviam? E como se evita que ele reinterpretasse a ordem, se em
determinados casos elas fossem dadas textualmente?
P. Deve-se dar outras ordens correspondentes!
R. Exato. O problema é somente que
não existem documentos que definam e exijam a “re-interpretação” dos
alegados termos camuflados, em relação à Solução Final. Além disso, tais
ordens iriam minar a intenção de manter segredo, o que era a origem da
utilização de linguagem camuflada.
P. Os assassinos seriam também bastante tolos, se
tivessem registrados textualmente tal coisa. Com isso eles teriam
revelado sua camuflagem. Tais ordens foram dadas de certo verbalmente.
R. Então todas aquelas milhares de
pessoas, que sabidamente participaram da Solução Final, participaram
sem contestação do genocídio, somente porque algum superior deu uma
ordem verbal, a qual estava diametralmente em oposição à ordem escrita.?
P. Sim.
R. Se então o diretor da empresa
onde você trabalha determinar que você deva remanejar os computadores de
um prédio para o outro, mas o chefe do departamento lhe disser em
segredo, que você deve na realidade destruir cada um dos computadores,
você pegará uma marreta sem qualquer respaldo por escrito do diretor da
firma, e marchará para o interior do departamento de informática da
empresa, reduzindo tudo a pó?
P. Ãhhh…
R. E pense ainda: naquela época, a
punição para execução sem ordem e principalmente para sabotagem dos
esforços de armamentos, era ainda a pena de morte. Que tais
correspondentes deslizes não foram punidos em todos os casos e não foram
sumariamente julgados, é difícil admitir, principalmente à vista da
invariável dura perseguição criminal durante o Terceiro Reich. O fato de
que até hoje não foi encontrado qualquer documento onde tenha sido
ordenado o genocídio dos judeus e determinado a “re-interpretação” de
temos camuflados, A execução deste terrível plano de genocídio, que nunca foi posto no papel, que contradiz todas instruções escritas e subseqüentes, e não deixou qualquer rastro burocrático, necessita de fato para isso a transmissão das ordens por telepatia.
Eu quero dizer, portanto, que toda essa tese de linguagem camuflada é absurda. Mas deixe por ora este problema de lado e lance um olhar para o que acontecia de fato nos Campos dos Terceiro Reich, a partir da metade de 1941. Nós começaremos aqui com o mais famoso de todos os Campos, com Auschwitz.
R – Germar Rudolf
P - Público
Frases do texto original foram destacadas em negrito pela Equipe do Inacreditável – NR
Quem é Germar Rudolf?
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